sábado, 9 de abril de 2011

A vingança do parto para a próstata



O Parto, a Próstata e a Vingança
Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. 

Lua-de-mel,viagens, prestações da casa própria e o primeiro bebê, tudo uma beleza. 

Anos oitenta a moda na época era ter uma filmadora do Paraguai. 

Sempre tinha ou tem um vizinho ou mesmo amigo contrabandista disposto a trazer aquela muambinha por um precinho muito bom! 

Hora do parto ela tinha muita vergonha, mas eu teimoso, desejava muito eternizar aquele momento. 

Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho. 

Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a 
assistir ao filme. 

Perdi a conta de quantas cópias eu fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos. 

Meu filho e minha esposa eram os meus orgulho e tesouro. 

Três anos se passaram ai nova gravidez, novo parto, nova 
filmagem, nova crise de choro, tudo como antes. 

Como ela "categoricamente" me disse que não queria que eu a filmasse dessa vez, sem ela esperar invadi a sala de parto e mais uma vez com a câmera ao ombro cumpri o mesmo ritual. 

As pessoas que me conhecem sabem que em mim havia naquele momento apenas o amor de pai e marido apaixonado nesse ato. 

O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma  demonstração de meu orgulho. 

Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana num instinto de vingança, invadisse a sala do meu urologista, com a câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata. 

Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e minha mulher gritando: 

- Ah! Doutoooor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor! 

Meus olhos saindo da órbita fuzilaram aquela cachorra, mas a dor era tanta que não conseguia nem falar. 

O miserável do médico, pra se exibir, girou o dedão!!! Ah eu na hora vi o teto a dois centímetros do meu nariz. 

E a minha mulher continuou a gritar, como se fosse um diretor de cinema: 

Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar dessa vez. Vou dar um close agora... 

Na hora alcancei um sapato no chão e joguei na maldita.

Agora amigos, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos, 
parentes e outro mais que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. 

Eu pago o reembolso. 

(Luiz Fernando Veríssimo)

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